18 de novembro de 2014

Grandes discos de 1994 - Vauxhall and I

Em 1994 eu estava na sétima série e logo que chegava em casa da escola colocava direto na MTV. Certo dia vi um videoclipe de um cara topetudo, que cantava em um corredor uma música meio melancólica, que eu me identifiquei prontamente. O vídeo era do cantor Morrissey e a música era “The more you ignore me, the closer I get”. Era meu primeiro contato com este artista e tempos depois fui saber que ele foi vocalista de uma das maiores bandas de todos os tempos: o The Smiths.


O ano de 1993 não foi nada bom para Morrissey, seu agente Nigel Thomas morreu, assim como o diretor de seus vídeos Tim Broad e o seu produtor Mick Ronson (o lendário guitarrista de David Bowie na fase Ziggy Stardust). Além destas perdas, ainda teve que lidar com a mídia britânica, que o acusava de ser fascista graças à canção “National front disco” de seu álbum anterior, Your Arsenal de 1992. Para piorar, no começo de 1994 participou de um show da banda Madness, balançando a bandeira britânica de forma provocativa, alimentando ainda mais a polêmica imprensa inglesa.

Em 22 de março de 1994 o cantor lançava seu quarto álbum de estúdio, Vauxhall and I. A maioria da imprensa apostava que o disco seria um fiasco, mas Morrissey sempre surpreende e lançou um de seus melhores trabalhos solos. Este álbum tem letras ainda mais provocativas e confessionais e graças aos arranjos dos guitarristas Boz Boorer e Alain Whyte, tem uma atmosfera melancólica e etérea.

O disco abre com a bela “Now my heart is full” em que Moz cita 4 personagens do livro de Grahan Greene, Brighten Rock, assim como o ator britânico Patrick Roonan. Uma canção tradicional do repertório de Morrissey em que no refrão declara: “Agora meu coração está cheio / Agora meu coração está cheio / E eu nem posso explicar / Então eu nem tentarei”.

“Spring helled Jim” usa samples de diálogos do documentário de 1958, We Are Lambeth Boys e “Billy Budd” é sobre o papel de Terence Stemp (um dos atores preferidos do cantor), no filme de 1962 do diretor Peter Ustinov, adaptado do romance de Herman Melville. Estas referências cinematográficas e literárias sempre fizeram parte da carreira de Morrissey e ficaram mais evidentes em sua carreira solo.

“Hold on to your friends” é uma emocionante canção, que fala que devemos nos agarrar aos amigos. “The more you ignore me, the closer I get” é uma das melhores músicas de Moz, fazendo muito sucesso nos Estados Unidos. Com um belo solo de guitarra, tem um clima melancólico e na letra fala sobre ser ignorado por alguém e acabar ficando com vontade de ficar mais perto ainda. 



O álbum ainda conta com a provocativa “Why don't you find out for yourself" e a irônica "I am hated for loving". Para encerrar o disco, a pesada “Speedway” em que Moz destila seu veneno contra a mídia britânica e seus detratores: “Todos os rumores / Me mantendo enterrado / Eu nunca disse eu nunca disse / Que eles eram completamente infundados” ou na parte “Você não vai descansar / Até que a terra que me deseja / Finalmente me tenha / Oh, você conseguiu agora”.

Em Vauxhall and I, Morrissey conseguiu agradar tanto a crítica, quanto ao público, lançando um de seus melhores discos. Ali estavam todas as grandes qualidades de Moz bem equilibradas: letras fortes, arranjos sutis, mas extremamente interessantes e sua bela voz interpretando com emoção e ao mesmo tempo ironia. Logo depois em 1995, lançou o mediano álbum Southpaw Grammar, demorando alguns anos para lançar algo que chegasse perto da qualidade de Vauxhall and I. 



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