Depois do lançamento de
Bleach e a crescente popularidade da banda no meio da cena underground do rock
americano, era o momento do Nirvana lançar seu segundo disco. Kurt Cobain
queria dar novos rumos à sonoridade da banda. Estava um pouco cansado daquele
som “metálico” e sujo de Bleach e queria fazer um som mais pop, mais palatável,
mas sem perder o peso do rock que o grupo fazia.
Em meados de 1990 a banda já
tocava músicas que fariam parte deste próximo álbum. Canções como “Lithium”,
“In bloom”, “Polly” e “Breed” (que se chamava “Imodium” nas primeiras
apresentações) já eram tocadas com o baterista Chad Channing. Cobain não estava
satisfeito com o som que Chad estava fazendo nestas novas músicas. O estilo
dele combinava como as músicas de Bleach, mas faltava mais versatilidade para o
novo som que Kurt queria fazer.
Cobain então decidiu demitir
Chad Channing da banda. Ele não chegou a falar para Chad diretamente que ele
estava fora, apenas colocou um anúncio procurando um novo baterista e avisou
que eles iriam viajar para excursionar sem ele. Os substitutos neste período
foram Dale Crover do Melvins e Dan Peters do Mudhoney.
Certa vez Kurt e Krist
Novoselic assistiram ao show da banda Scream que tinham na bateria Dave Grohl. Eles ficaram espantados com a performance de
Dave e falaram que precisavam de um baterista daqueles no Nirvana. Pouco tempo
depois o Scream tinha terminado e Dave entrou em contato com Novoselic, por
intermédio da banda Melvins e em pouco tempo já estava integrado ao Nirvana.
Depois que Dave Grohl entrou
na banda, o Nirvana passou a ser uma máquina em que tudo funcionava. Grohl é um
excelente baterista de rock, uma batida forte e versátil, era tudo que a banda
precisava para engrenar de vez. Pode se perceber a diferença entre Channing e
Grohl nas duas diferentes versões de “In bloom”, gravada em 90 por Channing e em 91 por Grohl.
Após fecharem contrato com
gravadora Geffen, a banda aceitou trabalhar com o produtor Butch Vig para o
segundo disco. Vig era um desconhecido até então, mas a banda gostou do
trabalho dele com a banda Killdozer. O disco foi gravado entre maio e junho de
1991, no lendário estúdio Sound City, na Califórnia, onde já tinham sido feitos
discos como Rumours do Fleetwood Mac e alguns discos de sucesso de Tom Petty
dos anos 70.
Desde a primeira vez que
Butch Vig ouviu “Smells like teen spirit” já sabia que ali estava uma das
músicas mais poderosas que já tinha ouvido. Quando viu a banda tocando ao vivo
no estúdio a música ficou espantado com a força e vitalidade da canção e ficou
pedindo para a banda tocar novamente para assimilar a música e pensar o que
iria fazer nas gravações para torná-la ainda mais poderosa.
O videoclipe de “Teen
spirit” virou um marco na história da música. Cobain se inspirou em um filme
cult da década de 70 com Matt Damon em que um grupo de alunos destroem uma
escola. Outra inspiração para o clipe foi o filme Rock n´roll High School dos
Ramones.
Dirigido por Samuel Bayer,
demorou horas para ser filmado, o que deixou Kurt realmente puto, ou seja, a
raiva mostrada por ele no vídeo era verdadeira. No clipe aparecem alguns
personagens, entre eles o zelador da escola, que nada mais nada menos seria a
representação de Cobain, que foi zelador de uma escola em uma das piores fases
de sua vida. No final das filmagens os figurantes do vídeo (que eram fãs da
banda) pediram ao diretor para quebrar todo o cenário, o diretor já exausto
disse que tudo bem e virou aquela rebelião juvenil que vemos no final do clipe.
Em “In bloom”, música que já
tinha sido gravada pela banda na época da Sub Pop, percebe-se como os vocais de
Cobain e Grohl se encaixavam perfeitamente, além da linha de baixo de Novoselic
e a bateria de Grohl que dialogavam fluentemente, mostrando que a banda agora
era uma máquina de fazer grandes canções com cada peça funcionando muito bem.
Krist Novoselic é um
integrante que não tem sua importância devidamente reconhecida. Um grande
baixista (literalmente, no alto de seus 2,00 metros de altura), que também tinha
uma função de ser o “escudo” de Cobain, que era muito inseguro em relação ao
seu trabalho mas sempre tinha em Novoselic (um dos poucos grandes amigos que
teve na vida) o apoio necessário para continuar a banda.
“Come as you are” tornou-se
um dos maiores clássicos da história do rock. O riff básico, mas extremamente
emotivo desta canção se tornou obrigatório para qualquer um que queira aprender
a tocar guitarra ou violão. Kurt “roubou” este riff de uma canção de uma banda
que admirava muito, o Killing Joke. Apenas desacelerou a introdução da música
“Eighties”. A banda até pensou em processar o Nirvana, mas Kurt afirmou que
fora uma homenagem e nada aconteceu. Dave Grohl em 2003 tocou bateria no disco
do Killing Joke e disse que esta era uma forma de pagar o riff roubado para
esta grande canção do Nirvana.
Butch Vig foi muito
importante para o sucesso de Nevermind. Sua produção competente, explorando
tudo o que o Nirvana tinha de melhor e alguns truques utilizados por ele foram
essenciais para que se transformasse em um grande disco de rock. Vig utilizou
muitas dobras de vocais, sendo que Kurt não gostava muito da ideia, Vig então
afirmou que John Lennon fazia isto em seus discos e acabava convencendo Kurt a
fazer. Em “Drain you” o produtor utilizou cinco guitarras juntas com distorções
diferentes para dar um som mais encorpado à música.
“Polly” foi uma das músicas
que deram mais trabalho para gravar. Por isto foi usada no disco uma versão voz
e violão de Kurt gravada no Smart Studio em 1990, com os pratos de bateria
tocados por Chad Channing. “Something in the way” também deu trabalho para Vig
e para o Nirvana. Kurt queria uma versão mais suave e mostrou para Vig no
violão como deveria ser. Vig ficou impressionado com aquela versão, e gravou
ali na hora com Kurt quase sussurrando a letra. O violoncelo de Kirk Canning não
afinava completamente com o violão de Kurt mas este desacerto deu um tom mais
triste e intimista à música que encerra Nevermind.
Na primeira prensagem de
Nevermind havia uma música secreta depois de “Something in the way”. “Endless
nameless” era uma jam feita pela banda com muitas distorções e desafinações,
com mais de 6 minutos. A banda costumava incluir a canção em alguns shows e
quebrava os instrumentos ao final dela.
A capa do álbum veio de uma
ideia de Kurt após assistir um documentário sobre nascimento de bebês em
piscinas. Com a imagem do bebê nadando na piscina, Cobain achou que faltava
mais alguma coisa. Foram inseridos diversos objetos pendurados em um anzol até
que a nota de dólar foi escolhida. A capa de Nevermind foi censurada em
diversas lojas, devido ao pênis ereto do garoto embaixo d’água.
É difícil ter a dimensão da
importância deste álbum. Um disco que afetou a vida de todos que participaram
dele e de uma geração de fãs de rock. Não foi à toa que tirou Michael Jackson
do topo da parada em 1992 e vendeu mais de 30 milhões de cópias até hoje. Um
dos momentos mais emblemáticos do rock e discografia básica para qualquer um
que queira entender o rock feito nos anos 90 em diante.
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