Em 1989 a saúde do cantor
Cazuza já estava bem debilitada, devido aos efeitos decorrentes do vírus da
AIDS e devastadores efeitos colaterais dos remédios que usava. Percebendo que
talvez tivesse pouco tempo de vida, Cazuza decidiu gravar um novo trabalho e
chamar o maior número possível de amigos para colaborar neste disco.
Burguesia, último trabalho
de Cazuza, foi gravado entre março e maio de 1989 e lançado em agosto do mesmo
ano. Cazuza assumiu a produção do disco junto com João Rebouças. Sua banda de
apoio foi apelidada de “As feras de Caju” e contava com Paulinho Guitarra na
guitarra, Renato Rocketh no baixo, Sérgio Della Monica na bateria e João
Rebouças nos teclados. Muito doente, Cazuza cantou as músicas na cadeira de
rodas e algumas até mesmo deitado, devido a sua fragilidade física.
O disco é duplo e
conceitual, o lado A é mais roqueiro e o Lado B é puxado mais para a MPB.
Vários amigos colaboraram com o cantor no disco, entre eles o eterno
companheiro de Barão, Frejat, George Israel do Kid Abelha, Lobão, Bebel
Gilberto e Ângela Rô Rô. Com 20 músicas no total, Burguesia mostra a pressa de
Cazuza em lançar o maior número de músicas possíveis, prevendo que não havia
muito tempo a perder.
A primeira canção e que dá
título ao álbum, “Burguesia”, parceria de Cazuza com
Ezequiel Neves e George Israel, é uma crítica afiada à elite burguesa em geral,
suas futilidades e falta de preocupação com o social. Irônico, Cazuza também se
inclui na burguesia, porém justifica que está do lado do povo e que não é como
a elite. Em “Nabucodonosor”, o cantor cita o personagem bíblico e fala
sobre seu avô que assim como Cazuza se chamava Agenor e fala sobre a morte na
letra.
A divertida “Garota de
Bauru”, conta a história de uma garota que gosta Paralamas e Lulu Santos e que
é metida a Janis Joplin. “Eu agradeço”, parceria de George Israel, tem um Sax
que dá um ritmo mais elegante à música e na letra Cazuza agradece a Deus de uma
forma ácida e sarcástica. Em “Eu quero alguém” o cantor fala que precisa
encontrar uma pessoa, seja homem ou mulher.
“Como já dizia Djavan” é uma
parceria com Frejat, que fala sobre o amor de dois homens. “Cobaias de Deus”,
parceria com Ângela Rô Rô, tem uma letra forte e um belo dedilhado de violão,
uma das melhores músicas do disco: “Vá ver as cobaias de Deus / Andando na rua,
pedindo perdão / Vá a alguma igreja qualquer / Pois lá se desfazem em sermão”.
A versão equivocada de
“Quase um segundo”, uma das melhores músicas de Herbert Vianna é um dos poucos
pontos fracos do disco, ficando bem inferior a versão original. “Filho único”
também tem uma letra muito forte, nela Cazuza fala sobre seu egoísmo de filho
único: “Os filhos únicos são seres infelizes / Eu tento mudar / Eu tento provar
que me importo / com os outros / mas é tudo mentira”.
“Preconceito” é uma linda
versão para a composição de Fernando Lobo e Antônio Maria, com um arranjo meio
tango, meio rock. “Esse cara” é uma versão de Caetano Veloso em uma letra com
eu lírico feminino. “Cartão postal” é uma versão de Rita Lee, desta canção que
faz parte do clássico disco dela, Fruto Proibido. “Quando eu estiver cantando”
é a despedida de Cazuza: “Fique em silêncio / Porque o meu canto é a minha
solidão / É a minha salvação / Porque o meu canto é o que mantém vivo / É o que
me mantém vivo”.
O disco Burguesia mostra a
urgência de um artista que estava à beira da morte. Todo o talento como
letrista e cantor estava contido neste trabalho que em minha opinião, só perde
em qualidade na discografia solo de Cazuza para o clássico Ideologia de 1988.
Uma bela despedida de um dos artistas mais significativos da música brasileira.
Sem palavras.
ResponderExcluirCazuza era um artista único mesmo...faz muita falta! Abraço!
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