31 de agosto de 2014

Grandes discos de 1994 – The Holy Bible

A banda galesa Manic Street Preachers já era uma banda bem conhecida e de sucesso no Reino Unido em 1994. O grupo entrou em estúdio para gravar seu terceiro álbum com o objetivo da fazer um disco mais rústico e com letras mais fortes e com uma posição política mais clara. Holy Bible foi lançado em 29 de agosto de 1994 e é um dos discos mais densos e fortes da década de 90.


Formado por James Dean Bradfield nas guitarras e vocais, Richey Edwards nas guitarras, Nicky Wire no baixo e Sean Moore na bateria, o grupo neste trabalho tinha influências de bandas como Wire, Gang of Four, Joy Division e Pil. As letras, feitas pelo guitarrista Richey Edwards, falam sobre depressão, anorexia, abuso de álcool entre outros problemas enfrentados pelo problemático guitarrista, além é claro das letras antiimperialistas e de esquerda que sempre foram características da banda.

The Holy Bible foi gravado no decadente estúdio Soundscape de Cardiff no País de Gales, soando claustrofóbico e corrosivo. Um disco bem diferente dos anteriores, que eram mais puxados para o rock de arena. O álbum também soava bem diferente dos discos lançados na época como Definately Maybe do Oasis (lançado na mesma semana do disco do Manics). Enquanto as outras bandas da época soavam como Beatles e The Who, o Manics tinha um som inspirado em Gang of Four, Magazine entre outras do pós-punk.

As letras e temáticas fortes das músicas fizeram do álbum um grande fracasso comercial, com vendagens muito abaixo dos discos anteriores. Em "4st 7lb", a letra diz sobre os problemas com anorexia do guitarrista Richey Edwards, tanto que o título é o peso limite para que uma pessoa sobreviva com anorexia. No trecho mais sombrio da música Richey diz: “Quero ficar tão magro / que eu suma de vista”. Este lado autodestrutivo continua em “Die in the summertime” que começa com: “Arranho minha perna com um prego oxidado / mas infelizmente ele se cura”.

Algumas letras também foram influenciadas pelo Holocausto, graças às visitas que a banda fez a antigos campos de concentração em Dachau e Belsen. Músicas como “Archives of Pain” e “Mausoleum” são exemplos disto. "Ifwhiteamericatoldthetruthforonedayit'sworldwouldfallapart" fala sobre o imperialismo norte-americano e o mal que isto pode causar ao mundo.

Em “Walking abortion” a letra diz “Somos abortos ambulantes”, outra canção com uma temática muito forte. “The Intense Humming of Evil" fala sobre a maldade humana, assim como “She is suffering”. “This is yesterday” segundo o baixista Nick Wire é sobre olhar para trás, ver sua juventude e considerá-la um período glorioso. 

Holy Bible tem entre suas músicas áudios de alguns diálogos, algo que se tornou comum em álbuns da banda a partir de então. “Yes”, por exemplo, começa com um diálogo tirado de um documentário sobre prostitutas e cafetões. “Faster” começa com um diálogo tirado de uma das cenas do filme 1984, versão cinematográfica do livro de George Orwell. “The Intense Humming of Evil" começa com um extrato sobre o julgamento de Nuremberg.



O disco foi dedicado ao agente do grupo, Phillip Hall, que tinha morrido de câncer em 1993. A capa é um desenho grotesco, feito por Jenny Saville. Holy Bible foi o último disco da banda com o guitarrista Richey Edwards, que desapareceu em 1º de fevereiro de 1995 e nunca mais foi encontrado. Mesmo sendo um fracasso de vendas, o álbum é um dos mais fortes e importantes trabalhos do Manic Street Preachers, soando interessante até os dias de hoje.




28 de agosto de 2014

Innuendo – O último disco do Queen

A década de oitenta foi de altos e baixos para o Queen. Já consagrados com discos clássicos nos anos 70 como A Night At The Opera e Sheer Heart Atack, a banda enveredou por caminhos estranhos, sonoridades mais pop, não se dando muito bem em algumas vezes, como no disco Hot Space de 1982, considerado o pior trabalho do grupo.


O disco The Miracle de 1989 fez sucesso, puxado pelo hit “I want it all”. A banda entrou em estúdio em 1990 para a gravação de um novo trabalho, com intenções de fazer um rock mais próximo ao que fazia nos anos 70. Para a produção, foi recrutado David Richards, que coproduziu o álbum junto com os integrantes do Queen.

Os rumores sobre o estado de saúde de Freddie Mercury eram preocupantes, muito se especulava que ele era portador do vírus da AIDS. Mercury desmentia tais informações e trabalhou duro junto com Brian May, John Deacon e Roger Taylor, para gravar o maior número de músicas possíveis, de certa forma prevendo que talvez não tivesse mais muito tempo de vida.

Innuendo (em português “insinuação”) é o décimo quarto disco de estúdio do Queen e foi lançado em fevereiro de 1991. O álbum teve um atraso em seu lançamento devido ao ritmo mais lento de sua gravação, devido aos problemas de saúde de Freddie Mercury. O trabalho trazia aquilo que o Queen sabia fazer de melhor: Grandes rocks de arena, com interpretações fortes de Mercury, intercaladas com baladas emocionantes e tristes.

A canção que abre o disco, “Innuendo”, começa com as qualidades que consagraram a banda, um rock forte para ser cantado a plenos pulmões em estádios. No meio da música há uma mudança rítmica, com guitarras espanholas e um ritmo flamenco, tocado com maestria por Steve Howe, ex-guitarrista do grupo Yes. “I'm going slightly mad" tem uns teclados meio Depeche Mode, enquanto “Headlong” é um daqueles “rockões” que a banda costumava fazer com maestria nos anos 70, com grandes solos e riffs de Brian May. 




"I can't live with you" é uma canção de amor com aqueles corais clássicos dos refrões do Queen. "Don't Try So Hard" é uma das músicas mais bonitas e tristes da banda, com uma interpretação de Mercury que nos dá a impressão que sua voz vai se despedaçar a qualquer momento. Em "These are the days of our lives", uma música nostálgica e melancólica, Freddie Mercury aparece frágil, tanto no videoclipe quanto na música. 

"Delilah" é a mais fraca do disco, parece ser uma homenagem à gata de estimação de Mercury, tanto que a canção tem alguns miados constrangedores. O hard rock poderoso de “The hitman” faz o ouvinte querer balançar a cabeleira e fazer “air guitar” como todo grande roqueiro deve fazer. “Bijou” tem uma guitarra matadora de Brian May e emociona até os mais durões. 

“The show must go on” encerra o álbum e a carreira discográfica do Queen com maestria e emoção. Uma das melhores composições feitas no rock em todos os tempos com uma letra que fala que a vida deve continuar, mesmo com todas as decepções e perdas: “O show deve continuar / Por dentro meu coração está se partindo / Minha maquiagem pode estar dissolvendo / Mas meu sorriso continua”. Um belo encerramento para um grande álbum.




Freddie Mercury faleceu em novembro de 1991 e Innuendo acabou sendo o último disco de estúdio da banda. O Queen ainda lançou em 1995 o disco póstumo Made in Heaven, com músicas que ficaram fora dos discos anteriores. Innuendo era o Queen em sua força máxima, mesmo sabendo de alguma forma que era uma espécie de despedida.

Ao contrário de artistas como Cazuza e Renato Russo que em seus últimos discos demostravam estar muito debilitados fisicamente, isto não é percebido tão nitidamente em Innuendo. Freddie Mercury era um artista tão forte que nem a doença o impediu de fazer um grande trabalho. 





25 de agosto de 2014

O talento de Björk em 10 videoclipes

A cantora, atriz e ativista política Björk começou cedo na vida artística, lançando seu primeiro disco solo em 1977 aos doze anos de idade. Nascida na Islândia em 21 de novembro de 1965 coleciona muitos prêmios musicais, graças ao seu grande trabalho, ao mesmo tempo inovador e pop, com ritmos musicais diferentes ao que o grande público está acostumado.


Em 1986 formou a banda Sugarcubes e foi com ela que ganhou notoriedade ao redor do mundo, com sucessos como “Birthday” e “Hit”. Com o término do grupo, começou sua vitoriosa carreira solo em sua fase adulta, lançando seu disco de estreia em 1993, chamado Debut, misturando jazz, música eletrônica e acid house. Já são 7 discos solos lançados (na fase adulta) com milhões de cópias vendidas e sempre com uma sonoridade surpreendente e inovadora.

Outro ponto alto da carreira de Björk foi sua atuação no filme Dançando no Escuro de 2000. Ela foi premiada como melhor atriz no Festival de Cannes e o filme foi muito elogiado ao redor do mundo. Obviamente também fez a trilha sonora do filme, que teve a participação na música “I´ve seen it all” de Thom Yorke do Radiohead. Neste post vamos relembrar dez videoclipes da cantora, mostrando toda a criatividade e talento de uma das cantoras mais importantes da atualidade.

“Human Behaviour” (Do álbum Debut de 1993)

Neste vídeo dirigido pelo francês Michel Gondry, a cantora é perseguida por um urso, com imagens com bastante influência do surrealismo, em uma música que mostra as preocupações ambientais de Björk.




 “Venus as a boy” (Do álbum Debut de 1993)

Neste clássico dos anos 90, Björk frita um ovo enquanto interpreta esta fantástica canção de seu primeiro disco solo.




“Army of me” (Do álbum Post de 1995)

Aqui a cantora é uma espécie de heroína e enfrenta alguns inimigos e obstáculos para atingir seu objetivo final. Outro belíssimo vídeo dirigido por Michel Gondry. 




“Hyperballad”   (Do álbum Post de 1995)

Com algumas referências ao mundo dos games, nesta música que mostra o lado mais eletrônico do som de Björk. Um vídeo que ainda é atual, mesmo tendo sido feito há quase vinte anos, uma das qualidades do trabalho da cantora, sempre à frente de seu tempo. 




“It´s oh so quiet” (Do álbum Post de 1995)

Dirigido por Spike Jonze, que ficou muito famoso nos anos 90 por ter feitos vídeos clássicos do rock alternativo, se inspira principalmente nos filmes musicais antigos, com belas coreografias e gritos de Björk. Outro vídeo essencial da cantora. 




“Joga” (Do álbum Homogenic de 1997)

Um dos mais belos vídeos da cantora mostra várias paisagens exóticas da gélida Islândia, país natal de Björk. Também um das músicas mais emocionantes dela. 




“Bachelorette” (Do álbum Homogenic de 1997)

Neste fantástico vídeo a cantora encontra um livro que conta a história de sua vida, conforme ela vai lendo. O livro faz muito sucesso criando desdobramentos surpreendentes. 




“Hidden place” (Do álbum Vespertine de 2001)

Mostrando apenas o rosto de Björk, mostra toda a expressão artística da cantora, com alguns efeitos especiais.




“Pagan poetry” (Do álbum Vespertine de 2001)

O vídeo mais polêmico da artista mostra Björk com os seios à mostra e algumas cenas com a imagem embaçada, que parecem relações sexuais. 




“Triumph of a heart” (Do álbum Medulla de 2004)

Neste vídeo Björk faz par romântico com um gato. O interessante é que o disco a qual pertence esta música foi feito somente com vocais imitando instrumentos, talvez o trabalho mais experimental da cantora. 




21 de agosto de 2014

Dois - O disco definitivo da Legião Urbana

Depois do sucesso de seu primeiro disco, a Legião Urbana se preparava para lançar seu segundo trabalho. A ideia inicial de Renato Russo era lançar um disco duplo que se chamaria Mitologia e Intuição. O disco duplo teria também as canções que posteriormente pertenceram ao disco Que País é Este? de 1987. A ideia foi logo descartada pela gravadora, pois o disco iria custar o dobro do preço, dificultando as vendas.


O álbum Dois foi gravado entre fevereiro e abril de 1986 e lançado em julho de 1986, com a produção de Mayrton Bahia. Um pouco antes do lançamento do disco, todas as canções “vazaram” e foram parar nas mãos da Rádio Transamérica, que fez um programa especial com uma hora de duração, tocando todas as músicas do futuro trabalho da Legião. O que poderia ter prejudicado a banda acabou sendo um golpe de marketing acidental, depois deste programa praticamente todas as canções de Dois começaram a tocar nas rádios, alavancando ainda mais as vendas do disco.

Abrindo com “Daniel na cova dos leões” título que faz referência ao personagem bíblico, começa com uma gravação de uma rádio tocando um trecho da canção “Será” do primeiro disco. No início da letra um trecho que faz logo referência implícita ao sexo oral: “Aquele gosto amargo do teu corpo / Ficou na minha boca por mais tempo”, em uma interpretação forte e decidida de Renato Russo. Os arranjos são característicos da banda, usando aqueles teclados com efeitos de cordas que Renato Russo sempre gostava de utilizar nas canções da banda.



“Quase sem querer” é um daquelas canções emocionais de Renato, nas quais as pessoas se identificam muito com a letra. Com um arranjo sutil e acústico, é umas das músicas menos impactantes do disco, mesmo feito muito sucesso nas rádios. A música seguinte “Acrilic on Canvas” é muito superior a anterior e uma das melhores e mais bem construídas canções da banda. O arranjo é conduzido pela linha de baixo marcante de Renato Rocha, com guitarras “atmosféricas” meio The Cure de Dado Villa Lobos, enquanto na letra Renato Russo faz uma analogia de uma pintura feita em acrílico e uma desilusão amorosa. A interpretação de Renato junto com o arranjo é de tirar o fôlego, transformando a canção em algo forte e impactante.

“Eduardo e Mônica” é mais uma canção de Renato Russo no estilo Trovador Solitário, voz, violão e uma bela história sobre um casal com uma diferença de idade que se casa e tem filhos. Boa canção que fez muito sucesso, mas também fica um pouco fora do contexto do disco, se não pertencesse ao disco Dois, não faria tanta falta. “Central do Brasil” é instrumental e precede um dos maiores clássicos da carreira da banda: “Tempo perdido” com seu dedilhado inicial se transformou em um hino de uma juventude que buscava uma direção e novas referências. Uma pérola, que muitos falam que lembra coisas do The Smiths, principalmente pela guitarra, mas particularmente não acho tão parecido, pois as maiores influências da Legião sempre foram Joy Division, The Cure e Gang of Four. 



“Metrópole” mostra o lado mais punk do som da banda, com uma letra que é uma crônica sobre as grandes cidades, a violência e as dificuldades enfrentadas pela população, com um texto que ainda é atual, mesmo quase trinta anos depois. "Plantas embaixo do aquário" tem um riff de guitarra simples, mas que fica na cabeça, outro grande momento do disco, em uma letra que protesta contra a guerra, com várias vozes intercaladas no meio da música, mostrando a criatividade da Legião Urbana, que tinha um instrumental simples, mas muito inventivo.

"Música Urbana II" é um folk/blues só voz e violão de Russo, com sua voz grave faz também reflexões sobre a vida urbana e seus riscos. "Andrea Doria" é outra pérola do disco Dois, com pequenos detalhes nos arranjos de guitarra de Dado Villa Lobos, que enriquecem a canção. A voz contida e emocional de Renato transforma “Andrea Doria” em um dos lados B favoritos dos fãs do grupo. Na letra Russo desabafa: “Quero ter alguém com quem conversar / Alguém que depois não use o que eu disse / Contra mim”



“Fábrica” é outro momento mais pesado do disco, na letra Renato fala sobre o direito dos trabalhadores e contra a exploração de mão de obra. O álbum termina com a clássica “Índios”, uma das letras mais bem feitas de Renato Russo, que fala da exploração dos índios no Brasil, desde a época de seu descobrimento. Marcelo Bonfá disse em entrevista que sua esposa comenta sempre sobre o início da bateria da música e Bonfá acha que não tem nada de mais, que é muito simples, porém a Legião tinha esta característica de belos arranjos com simplicidade, pois não eram virtuoses em seus instrumentos, mas quase sempre no rock, menos é mais. Dinho Ouro Preto do Capital Inicial comentou também que a primeira vez que ouviu esta música ficou impressionado com a letra e ficou escutando várias vezes a canção, que não saía de sua cabeça.


Dois vendeu mais de Um milhão de cópias e catapultou os quatro rapazes de Brasília para o estrelato. A capa do disco também é simples, muito influenciada pela linguagem “clean” das capas do Joy Divison, aparecendo só o nome do disco e da banda em um fundo amarelo. Um dos álbuns mais influentes do rock brasileiro está na prateleira de milhares de jovens e adultos do Brasil, lembrando uma fase do rock que havia conteúdo e esperança de algo melhor para o país. Bons tempos!





19 de agosto de 2014

Discografia Básica – Disraeli Gears

O guitarrista Eric Clapton não estava mais satisfeito em tocar com a banda Yardbirds e em 1966 resolveu formar um novo grupo. Com Ginger Baker na bateria e Jack Bruce no baixo formou a banda Cream, considerado o primeiro supergrupo de rock da história. Uma banda formada por três virtuoses que dominavam completamente seus instrumentos, transformando o Cream em uma das mais influentes do rock dos anos 60.


Ainda em 66 sairia o primeiro disco do Cream, Fresh Cream. Este trabalho contava com alguns covers de lendas do blues como Robert Johnson e Willie Dixon, fora as composições próprias da banda. O álbum teve uma ótima repercussão e chamou a atenção pela psicodelia aliada ao blues, com uma banda com uma sonoridade nova e instrumental muito bem tocado.

O segundo álbum do Cream, Disraeli Gears foi lançado em novembro de 1967 e foi um avanço em relação ao primeiro disco. O trabalho foi produzido por Felix Pappalardi. Em Disraeli Gears, Eric Clapton reafirmou sua condição de deus da guitarra, com notas lentas e precisas. Além da guitarra fantástica de Clapton o disco ainda contava com o baixo fantástico de Jack Bruce e um dos maiores bateristas de todos os tempos, Ginger Baker. 

“Strange brew” primeira canção do álbum, já abre com as grandes características que consagraram a banda, com uma belíssima harmonia vocal de Jack Bruce e Clapton e a bateria ao mesmo tempo jazzística e roqueira de Baker. “Sunshine of your love” é um dos maiores clássicos do rock, com um riff de guitarra marcante que qualquer guitarrista que se preze deve tocar uma vez na vida pelo menos. A música ainda tem uma guitarra distorcida no refrão para os padrões da época, influenciando muito o rock mais pesado que iria aparecer alguns anos depois.



“World of pain” tem ótimas guitarras e melodia melancólica, enquanto “Dance the night away” tem boas harmonias vocais, instrumental coeso, experimental e virtuoso. “Blue condition” é um blues arrastado e “Tales of brave Ulysses” tem uma melodia empolgante cantada com propriedade por Jack Bruce, com Eric Clapton abusando do uso de efeitos wah wah.

“SWLABR” tem viradas espetaculares de Baker, “We're Going Wrong" é uma das melhores do disco com bateria marcante de Baker e clima tenso. “Outside woman blues" tem grandes riffs e solos de Eric Clapton, enquanto “Take It Back" é um blues tradicional, com gaita de Jack Bruce. O disco termina com “Mother's Lament” , música tradicional que mostra as influências blueseiras do grupo. 



Apesar do excelente disco de estreia, foi com Disraeli Gears que o Cream sacramentou suas grandes qualidades dentro da história do rock. Sua mistura de blues, jazz, psicodelia e rock foram a base para muitas bandas que vieram depois, seja no hard rock, rock progressivo ou blues. Infelizmente esta superbanda não durou muito, devido ao ego de seus integrantes, finalizando suas atividades em 1969, se reunindo novamente em 1993 e 2005, mas deixou sua marca inovadora dentro da história da música. 



14 de agosto de 2014

Grandes discos de 1994 – Grace

Jeffrey Scott Buckley nasceu em 17 de novembro de 1966 em Memphis. Jeff Buckley como ficou conhecido, era filho do cantor Tim Buckley, cantor de folk que fez sucesso no final dos anos 60 e começo dos anos 70, sendo que seu principal disco, Happy Sad, de 1969 é sempre lembrado em listas de melhores discos da história. Tim Buckley morreu de overdose de heroína aos 28 anos em junho de 1975. Seu filho Jeff tinha na época apenas 8 anos.


Jeff Buckley começou tocando apenas guitarra, pois não queria ser comparado com pai principalmente pela voz, além é claro da grande semelhança física. Tocou em algumas bandas de jazz e funk, até que em 1991 foi chamado a participar de um show tributo a seu pai e acabou cantando algumas canções dele. Além de perceberem ali a semelhança vocal com seu pai, muitos perceberam também o talento de Jeff. Foi neste show que conheceu Gary Lucas e foi convidado a integrar a banda Gods and Monsters. O Gods and Monsters começou a partir de então a chamar a atenção devido a ótimos shows e quando estava prestes a assinar um contrato com uma grande gravadora, Jeff Buckley decidiu seguir em carreira solo.

Em 1992 começou a se apresentar sozinho, só voz e guitarra em um bar chamado Sin-E e logo chamou a atenção de agentes da gravadora Columbia. Em outubro do mesmo ano assinou contrato com a gravadora e antes de gravar seu primeiro disco, fez uma turnê na Europa e gravou o EP Live at Sin-E. Grace, seu primeiro e único disco de estúdio foi lançado em 23 de agosto de 1994 e contou com Mick Ghodahl no baixo, Michael Tighe na guitarra e Matt Johnson na bateria. Buckley além da guitarra e vocal tocou no disco, órgão, dulcimer e tabla. 

Em uma época em que as guitarras do grunge ainda falavam alto nas rádios, Grace apareceu com uma sonoridade diferente, se aproximando mais do soft rock dos anos 70, com uma pitada de blues, folk e música gospel. O álbum é uma coleção de canções que falam sobre perda, saudade e melancolia. Apesar do clima triste, a voz versátil e poderosa de Buckley é um bálsamo e alivia a audição do álbum, graças também aos belos arranjos feitos por Jeff e sua banda de apoio.

“Mojo pin” abre o disco de forma tranquila, mas ao decorrer da música ganha um tom desesperado e um final meio caótico, com grande interpretação vocal de Buckley. “Grace” é uma canção que mostra todo o talento de Jeff, tanto como guitarrista quanto vocalista. “Last goodbye” é muito triste e tem arranjos de corda que podem emocionar o mais duro e frio coração. 



“So real” começa triste e explode em um refrão desesperado, em uma das melhores canções do álbum. “Hallelujah” é uma regravação de Leonard Cohen, mas Buckley canta com tanta autoconfiança que transforma a música em uma canção própria, como todo grande intérprete deve fazer. Em “Corpus Christi Carol” de Benjamim Britten, Buckley mostra sua grande versatilidade vocal, alcançando várias oitavas, algo incomum para uma voz masculina. O disco termina com a hipnótica e tensa “Dream brother”, um grande final para um grande disco.



Grace é sempre lembrado como um dos melhores discos da década de 90 e influenciou muita gente, como Radiohead, Travis e Coldplay. Jeff Buckley tinha conquistado fãs famosos, como Thom Yorke e Cris Cornell. Quando se preparava para gravar seu segundo trabalho de estúdio, Jeff Buckley morreu afogado quando nadava no rio Missisipi em maio de 1997. A música perdia ali um dos seus artistas mais promissores.



10 de agosto de 2014

Clássicos do Brasil – Selvagem?

O Passo do Lui, segundo disco do Paralamas do Sucesso, lançado em 1984, foi um enorme sucesso, com pelo menos seis músicas tocando na rádio. O êxito do disco foi ainda maior após o show da banda no Rock in Rio de 1985, uma apresentação histórica, levando o disco a vender mais de 250 mil cópias.

No começo de 1986 a banda entrou no estúdio para gravar seu terceiro disco, com a vontade de fazer um trabalho bem diferente do anterior, que era mais pop e com músicas mais dançantes. Selvagem? foi lançado em maio de 1986 e continha uma temática mais séria, com várias letras que falavam sobre o contexto social do Brasil naquela época, as injustiças e a pobreza no país.


Com a produção de Liminha (que neste mesmo ano produzira outro grande clássico do rock brasileiro, Cabeça Dinossauro do Titãs), Selvagem? trazia uma evolução da sonoridade da banda, agora o Paralamas misturava Reggae, Dub, Ska e Rock com muito mais propriedade e desenvoltura, graças também à solidez e coesão do Power trio, que conta com grandes instrumentistas, Herbert Vianna, um exímio guitarrista, Bi Ribeiro, uma baixista que faz linhas de baixo marcantes e precisas e João Barone, uma baterista fantástico, um dos melhores do Brasil.

A música de abertura, “Alagados” se transformou na base daquilo que seria o pop rock feito no Brasil a partir de então. Na letra, Vianna fala sobre a favela da Maré, no Rio de Janeiro, favela na qual Vianna passava de ônibus e podia perceber toda a dificuldade das pessoas dali, ao mesmo tempo a força de vontade e de superar a pobreza daquela gente. O riff de guitarra de Herbert é um dos mais marcantes da música brasileira e graças a uma alteração no andamento do bumbo da bateria de Barone, sugerida pelo produtor Liminha, a música deslanchou e se tornou um dos maiores clássicos do Paralamas. A canção ainda conta com a participação de Gilberto Gil nos vocais. 




A música “A novidade” era inicialmente uma canção instrumental, a banda não tinha conseguido fazer a letra dela e queria lançá-la de qualquer forma, mesmo instrumental. Vianna teve a ideia de pedir para Gilberto Gil fazer a letra e mandou uma fita cassete para ele ouvir a música e logo depois Gil falou a letra da canção pelo telefone para Vianna, que ficou visivelmente emocionado. Foi um casamento perfeito, a melodia simples e marcante com a letra poética e com uma crítica social, combinaram perfeitamente e “A novidade” é uma das mais marcantes do Paralamas.




“Melô do marinheiro” é uma das poucas músicas que não foram compostas do Herbert Vianna. A letra foi feita por João Barone quando ele estava de molho com a perna engessada, após sofrer um acidente de carro. A melodia foi feita por Bi Ribeiro e a música é a mais descontraída do álbum, quebrando um pouco o clima sério e politizado do disco.




“Selvagem”, música que dá título ao disco, é um hino de protesto contra a violência da polícia, o preconceito contra os negros, citando também o cineasta francês Jean-Luc Godard. O riff de guitarra é muito marcante e a letra uma das melhores feitas por Vianna. “A dama e o vagabundo” é o momento romântico do disco, enquanto “There´s a party” é um Ska cantado em inglês com sotaque bem brasileiro. “O homem” é outra música com letra com críticas sociais e “Você” é uma regravação do grande Tim Maia, que ficou muito feliz com a versão do Paralamas, falando para eles gravarem sempre músicas dele.




Na capa do disco, aparece o irmão de Bi Ribeiro, mostrando o lado Selvagem do ser humano, uma foto que de tão tosca, acabou virando um clássico. Selvagem? Vendeu mais de 750 mil cópias e se tornou um dos discos mais vendidos da banda. Um trabalho que sacramentou uma nova sonoridade dentro do cenário pop/rock brasileiro, influenciando muitas bandas que vieram depois, como O Rappa, Skank entre outras. Um álbum essencial para qualquer coleção de discos que se preze. 

6 de agosto de 2014

Grandes guitarristas - Tom Morello

Em 30 de Maio de 1968 nascia em Nova Yorque, Thomas Baptist Morello, mais conhecido como Tom Morello, um dos maiores guitarristas das últimas décadas. Tom estudou em Harvard Ciência Política, mas sua verdadeira paixão era a música. Passava de 2 a 4 horas por dia praticando guitarra e enquanto seus amigos após o término da faculdade se tornaram médicos e advogados, Morello já sabia o que queria ser: integrante de uma banda de rock.


Junto com o vocalista Jack de La Rocha, o baixista Tim Commerford e o baterista Brad Wilk, formou em 1991 a banda Rage Against The Machine, com uma ideologia de esquerda que criticava nas letras o imperialismo norte americano e o capitalismo em geral e defendia as minorias oprimidas como os imigrantes e a população indígena. Não demorou muito para Morello se destacar com seu estilo próprio e inovador dentro do mundo do rock.

O primeiro disco do Rage Against The Machine fez muito sucesso, mesmo com seu som pesado e as letras polêmicas e engajadas. Muito deste sucesso se deve aos criativos e fortes riffs de guitarras feitos por Tom Morello e seus solos que usavam e abusavam dos efeitos de sua parafernália de pedais.

Talvez o maior clássico do Rage seja a música “Killing in the name”. Nesta música Morello mostra toda sua inventividade como guitarrista, com riffs marcantes e um solo de guitarra furioso, que não primava pelo excesso de firulas e notas, mas sim pelo vigor e pegada. Outra música deste disco que mostra as qualidades de Morello é “Bullet in the head”, onde o guitarrista faz de tudo um pouco, fazendo sua guitarra “apitar” entre outros sons estranhos e interessantes. 





Outra marca do guitarrista é a influência do hip hop, que podemos ver tanto no vocal de Zack de La Rocha no Rage Against e nos “scratchs” que Morello faz na guitarra simulando as pick ups usadas com vinis pelos mc´s no rap. Este efeito pode ser ouvido na canção do segundo disco do Rage Against, “Bulls on Parade”. Tom é um guitarrista tão inventivo que até simulou um som de gaita na música “Guerilla Radio” do disco Battle of Los Angeles. A imitação foi tão perfeita que até uma vez lendo uma crítica do disco em uma revista de música, o autor da resenha falou sobre o solinho de gaita da música, pensando que era som de gaita mesmo e que o Rage Against estava incorporando novos instrumentos ao seu som.





Com o fim do Rage Against em 2000, Morello formou com o ex-vocalista do Soundgarden, Cris Cornell, o Audioslave e lançou em 2002 o primeiro trabalho da banda. Mais uma aula de como se usar efeitos de guitarra, o disco consagrou ainda mais o guitarrista como um dos melhores de sua geração. Destaque para o riff da música “Cochise”, totalmente “chupada” de Led Zeppelin, banda que claramente influenciou Morello e o belo solo da música “Like a Stone”.





Tom Morello é um artista que usa mais efeitos para elevar sua arte do que solos com muitas notas e técnica apurada. Abusa do wah wah, tremolo, phaser, delay e o que mais puder utilizar em seu set de efeitos. Não é a toa que é sempre lembrado por outros artistas para fazer participações em seus discos, como Bruce Springsteen, por exemplo. Com certeza um dos guitarristas mais criativos e talentosos das últimas gerações, que ainda vai produzir muitos riffs e músicas de qualidade. O rock está precisando e muito de artistas assim. 

3 de agosto de 2014

Burguesia - A despedida de Cazuza

Em 1989 a saúde do cantor Cazuza já estava bem debilitada, devido aos efeitos decorrentes do vírus da AIDS e devastadores efeitos colaterais dos remédios que usava. Percebendo que talvez tivesse pouco tempo de vida, Cazuza decidiu gravar um novo trabalho e chamar o maior número possível de amigos para colaborar neste disco.


Burguesia, último trabalho de Cazuza, foi gravado entre março e maio de 1989 e lançado em agosto do mesmo ano. Cazuza assumiu a produção do disco junto com João Rebouças. Sua banda de apoio foi apelidada de “As feras de Caju” e contava com Paulinho Guitarra na guitarra, Renato Rocketh no baixo, Sérgio Della Monica na bateria e João Rebouças nos teclados. Muito doente, Cazuza cantou as músicas na cadeira de rodas e algumas até mesmo deitado, devido a sua fragilidade física.

O disco é duplo e conceitual, o lado A é mais roqueiro e o Lado B é puxado mais para a MPB. Vários amigos colaboraram com o cantor no disco, entre eles o eterno companheiro de Barão, Frejat, George Israel do Kid Abelha, Lobão, Bebel Gilberto e Ângela Rô Rô. Com 20 músicas no total, Burguesia mostra a pressa de Cazuza em lançar o maior número de músicas possíveis, prevendo que não havia muito tempo a perder.

A primeira canção e que dá título ao álbum, “Burguesia”, parceria de Cazuza com Ezequiel Neves e George Israel, é uma crítica afiada à elite burguesa em geral, suas futilidades e falta de preocupação com o social. Irônico, Cazuza também se inclui na burguesia, porém justifica que está do lado do povo e que não é como a elite. Em “Nabucodonosor”, o cantor cita o personagem bíblico e fala sobre seu avô que assim como Cazuza se chamava Agenor e fala sobre a morte na letra. 




A divertida “Garota de Bauru”, conta a história de uma garota que gosta Paralamas e Lulu Santos e que é metida a Janis Joplin. “Eu agradeço”, parceria de George Israel, tem um Sax que dá um ritmo mais elegante à música e na letra Cazuza agradece a Deus de uma forma ácida e sarcástica. Em “Eu quero alguém” o cantor fala que precisa encontrar uma pessoa, seja homem ou mulher.

“Como já dizia Djavan” é uma parceria com Frejat, que fala sobre o amor de dois homens. “Cobaias de Deus”, parceria com Ângela Rô Rô, tem uma letra forte e um belo dedilhado de violão, uma das melhores músicas do disco: “Vá ver as cobaias de Deus / Andando na rua, pedindo perdão / Vá a alguma igreja qualquer / Pois lá se desfazem em sermão”. 

A versão equivocada de “Quase um segundo”, uma das melhores músicas de Herbert Vianna é um dos poucos pontos fracos do disco, ficando bem inferior a versão original. “Filho único” também tem uma letra muito forte, nela Cazuza fala sobre seu egoísmo de filho único: “Os filhos únicos são seres infelizes / Eu tento mudar / Eu tento provar que me importo / com os outros / mas é tudo mentira”.

“Preconceito” é uma linda versão para a composição de Fernando Lobo e Antônio Maria, com um arranjo meio tango, meio rock. “Esse cara” é uma versão de Caetano Veloso em uma letra com eu lírico feminino. “Cartão postal” é uma versão de Rita Lee, desta canção que faz parte do clássico disco dela, Fruto Proibido. “Quando eu estiver cantando” é a despedida de Cazuza: “Fique em silêncio / Porque o meu canto é a minha solidão / É a minha salvação / Porque o meu canto é o que mantém vivo / É o que me mantém vivo”.

O disco Burguesia mostra a urgência de um artista que estava à beira da morte. Todo o talento como letrista e cantor estava contido neste trabalho que em minha opinião, só perde em qualidade na discografia solo de Cazuza para o clássico Ideologia de 1988. Uma bela despedida de um dos artistas mais significativos da música brasileira.