No início de 1991, o artista
Chico Science, que já tinha tocado em bandas como Legião Hip Hop e Loustal,
entra em contado com o grupo de percussão Lamento Negro, um bloco afro que trabalhava
com educação popular em um centro comunitário da periferia de Recife. O vigor
da percussão do grupo, que misturava black music com música de raiz (como
maracatu e coco de roda), impressionou Chico.
A identificação musical foi
instantânea e surgia ali o embrião de um novo movimento, com a formação de uma
nova banda, chamada Chico Science e Nação Zumbi. O primeiro show da banda foi
em junho do mesmo ano e logo após foram acontecendo novas apresentações, só que
com a presença de outros artistas de Recife, com a banda Mundo Livre S/A,
artistas plásticos e punks. Começava então um movimento cultural chamado de
Manguebit.
Em 1992 era lançada a
coletânea com diversas bandas e o manifesto escrito pelo vocalista da banda
Mundo Livre S/A Fred 04 chamado “Caranguejos com cérebro”. A coletânea não teve
grande repercussão e a banda de Chico Science saiu em turnê por algumas grandes
capitais do Brasil como Belo Horizonte e São Paulo. O grupo acabou chamando
atenção da crítica e do público, culminando na contratação da banda pela
gravadora Sony Music.
No final de 1993, Chico
Science e Nação Zumbi entraram em estúdio para a gravação de seu primeiro álbum
que ganharia o nome de Da Lama ao Caos. O estúdio escolhido foi o Nas Nuvens no
Rio de Janeiro, que pertencia ao produtor mais renomado da época, Liminha,
ex-baixista dos Mutantes, que já tinha produzido discos clássicos como Cabeça
Dinossauro dos Titãs e Nós Vamos Invadir sua Praia do Ultraje a rigor.
Liminha infelizmente não
conseguiu captar com fidelidade o som da Nação Zumbi no disco, que perdeu a
força dos graves dos instrumentos de percussão, tirando o peso da sonoridade
que a banda tinha nos shows. Este fato, porém, não tirou a qualidade musical do
álbum, que tinha uma sonoridade revolucionária, ao misturar a música
tradicional do Recife, como o maracatu e a embolada com o rock.
Não demorou muito para o
disco conquistar a crítica e o público, o clipe da música “A cidade” rodava
constantemente na MTV e a banda começou a excursionar, tocando na Europa e
Estados Unidos. O som inovador de Chico Science e Nação Zumbi chamou a atenção
de grandes nomes da música brasileira como Gilberto Gil e Herbert Vianna.
As letras de Chico falavam
sobre as diferenças sociais, a violência e o descaso dos governantes com as áreas
pobres do mangue, uma situação que se encaixava em várias regiões pobres e
excluídas do Brasil. A poesia contundente e o jeito de cantar de Science, que
tinha uma habilidade incomum de pronunciar as palavras com a clareza que os
ritmos nordestinos pedem, como a embolada e o repente, davam a força que as
músicas precisavam, com um toque também de humor e otimismo de aquela situação
poderia mudar.
A percussão da banda aliada
à guitarra afiada de Lúcio Maia dava o apoio perfeito para as divagações de
Chico, em um estilo musical que era novo e original, numa mistura nunca feita
antes na música brasileira. Lúcio Maia é um dos grandes guitarristas de sua
geração e neste disco se sobressaia tanto nos momentos mais pesados, como nos riffs
metálicos de “Da lama ao caos” e “Lixo de mangue” quanto nos momentos mais
suingados como “A praieira” e "Rios, pontes & overdrives",
abusando do uso do efeito wah wah.
A banda ainda lançou o disco
Afrociberdelia em 1996, que tinha uma sonoridade mais fiel ao que era a banda
ao vivo. O álbum tinha a participação de gente como Marcelo D2 e Gilberto Gil e
consolidou de vez o grupo dentro do cenário musical brasileiro.
Infelizmente Chico Science
acabou falecendo em fevereiro de 1997, devido a um acidente de carro. A música
perdia ali um de seus artistas mais promissores e inventivos, que fez da música
uma revolução e foi a peça chave de um movimento que teve um impacto tão grande,
que não se via desde o movimento Tropicalista do final de década de 60. Um
artista de uma força inigualável, sem dúvida.
O legado de Chico Science foi a realização de dois dos melhores discos nacionais.
ResponderExcluirPode crer Janerson Chico Science era um cara genial, pena ter ido embora tão cedo.
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