David Bowie sempre foi um
artista genial. Pegava uma tendência, se aproveitava dela até as últimas
circunstâncias e quando via que aquilo já tinha se tornado entediante para ele, procurava um novo rumo, novas sonoridades e tendências que desafiassem ele a
fazer grandes músicas.
Bowie era mais do
que um cantor, era um ator que queria unir a parte teatral e interpretativa da
arte com a música. Para isto criou personagens em que ele mergulhava tão fundo,
que acabava se confundindo com seu próprio ego e na maioria das vezes tinha
que matar estes personagens, para que pudesse ficar livre e se desprender
daquela situação que não o interessava mais.
Segundo o jornalista André
Barcinski, antes de ser músico, Bowie foi publicitário e sabia muito bem o
caráter temporário da imagem no mundo do pop. O conceito de ídolos reais da
década de 60 de artistas como Beatles e Jimi Hendrix foi aniquilado por Bowie,
que trocou ídolos de carne e osso por personagens.
Em 1972, Bowie já tinha
gravado quatro grandes discos, porém ainda não tinha alcançado grande sucesso
como artista pop. Neste mesmo ano Bowie lança um disco que seria um marco em
sua carreira e na história do rock: The Rise And Fall Of Ziggy Stardust And The
Spiders From Mars, disco que contava a trajetória de Ziggy Stardust, personagem criado por Bowie que era um alienígena que caiu na terra e perdeu tudo, menos
seu legado.
Bowie teve como grande
influência em seu trabalho, o trabalho do Velvet Underground, mais precisamente
as letras que falavam do submundo das drogas e das diferenças sexuais e de Iggy
Pop. Artistas que não se encaixavam dentro dos padrões estéticos e musicais da
música pop, mas que influenciaram várias gerações. Bowie era mais um cronista do
que um cantor autobiográfico, seus personagens o deixavam livre para ser um observador.
Em 1972 Bowie também
produziu e participou do álbum solo de Lou Reed, do Velvet Underground. O disco
Transformer foi a base para o rock Glam feito nos anos 70 e Bowie a partir dali
viu que caminho queria seguir naquele momento.
The Rise and Fall... foi um
sucesso estrondoso que catapultou Bowie para o status de ícone da música pop.
Os fãs copiavam o visual andrógeno do personagem Ziggy Stardust, pintavam o
cabelo de vermelho e usavam roupas espalhafatosas para seguirem seu ídolo. Foi
nesta fase que Bowie assumiu sua sexualidade, primeiramente se dizendo gay e
logo após assumindo sua bissexualidade, algo que foi muito chocante para os
padrões da época.
Em 1973 depois de um ano de uma
turnê regada a muito sexo e drogas, Bowie anuncia em um show no Hammersmith
Odeon que aquele seria o seu último show. Os fãs pareciam não acreditar e
estavam inconsoláveis, mal sabiam eles que Bowie estava matando o personagem
Stardust, pois já estava entediado com tudo aquilo e queria uma nova direção
para sua música.
Ainda em 1973, o cantor
lançou um novo disco e também personagem Aladdin Sane. Aladdin era uma espécie
de evolução de Stardust, uma espécie de “Ziggy vai à America” segundo Bowie. O álbum Aladdin
Sane ficou em primeiro lugar nos Estados Unidos e deu continuidade ao som Glam
que Bowie já estava desenvolvendo no seu trabalho anterior. O personagem mais
uma vez foi descartado, assim que Bowie percebeu que aquilo não fazia mais
sentido.
Em 1974 lançou o disco
Diamond Dogs, disco totalmente inspirado no livro 1984 de George Orwell. Neste
trabalho, Bowie já começa a se afastar do Glam e flertar com outros estilos
como o Soul e em 1976 cria seu último grande personagem: Thin White Duke. Este
novo personagem era um viciado em cocaína, impecavelmente vestido com
uma camisa branca, calças pretas e colete. O "Duke" era um homem
vazio que cantava canções de amor com uma intensidade desesperada, enquanto
nada sentia. Este personagem surge com o álbum Station to Station, que era um
disco de transição antes da fase da trilogia de Berlim.
Bowie é um artista que
inaugurou o uso do pop como cultura feita para as massas. Ele fazia uma música
que era feita para chocar, se aproveitando do que estava a sua volta.
Identificava tendências, algo que ele via que poderia funcionar e fazer sucesso
e sugava até as últimas possibilidades. Quando aquilo não fazia mais sentido
mudava totalmente de estilo e personagem. Não foi à toa que foi apelidado de
Camaleão pela mídia musical. Um artista único que leva a arte até as últimas
consequências.
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