12 de maio de 2015

Grandes discos de 1995 – Ninguém

Em 1991, os Titãs tinham lançado o disco Tudo ao Mesmo Tempo Agora, um disco pesado, cru e cheio de letras escatológicas e concretistas, o que não agradou muito à crítica e resultou em baixas vendagens. Em 1992 a banda se preparava para lançar um novo disco, mais pesado ainda, com bastante influência do rock alternativo e do grunge que imperavam na época, tanto que o produtor seria nada mais nada menos que Jack Endino, produtor do primeiro disco do Nirvana, Bleach de 1989.

Arnaldo Antunes era um dos principais compositores da banda e percebia que seu trabalho deveria seguir um caminho próprio, que o espaço dentro do Titãs já não era suficiente para suas ideias e poesias. Arnaldo comunicou sua intenção de deixar a banda no começo das gravações do disco Titanomaquia, que sairia em 1993. Ao contrário do que muitos dizem Arnaldo não saiu pelo fato da banda estar fazendo um som mais pesado, ele já afirmou em entrevistas que isto não é verdadeiro e que o real motivo de sua saída era mais por causa de sua independência artística.


Em 1993 sairia o primeiro disco solo de Antunes, chamado Nome. Um álbum bem experimental, mas que já mostrava o que seria o trabalho solo, calcado em suas poesias concretistas e pós-modernas, com toques de rock e mpb. Para o segundo disco, Arnaldo Antunes montou uma banda de respeito, com Edgard Scandurra na guitarra, Paulo Tatit no baixo, Pedro Ito na bateria e sua esposa na época, Zaba Moreau nos teclados.

Ninguém, segundo trabalho solo de do ex-titã, produzido por Liminha, saiu em 1995 e mostrava o que havia de melhor do cantor e poeta. Já na primeira canção, “Ninguém” mostra a boa mistura de rock com as letras inteligentes e bem estruturadas de Arnaldo, mostrando uma banda bem azeitada e com bons arranjos. “Consciência” tem um peso e um ótimo solo de um dos melhores guitarristas brasileiros de todos os tempos, Edgard Scandurra. A música ainda tem a participação de Jorge Mautner, que recita um trecho da carta de Pero Vaz de Caminha sobre o descobrimento do Brasil. 


“Alegria” é uma das melhores canções de Arnaldo Antunes. Uma letra simples e singela, com um belo arranjo de guitarra de Scandurra e uma bela percussão. “Busdismo moderno” é uma poesia de Augusto dos Anjos musicada por Arnaldo, com um arranjo bem interessante e experimental. “Fora de si” tem uma pegada bem rock e fala de ficar fora de controle. A música também fez parte da trilha sonora do filme Bicho de Sete Cabeças, de 2001. É um dos maiores clássicos da carreira solo de Arnaldo.


“O seu olhar” é um dueto com Zaba Moreau, sua esposa na época, com uma letra bela e romântica. “Lugar comum” é uma regravação de Gilberto Gil, enquanto “Judiaria” é uma ótima versão de Lupicínio Rodrigues, que ganhou um peso e uma pegada meio rock meio jovem guarda. “Inspirado” é uma pareceria com Edvaldo Santana, artista do underground paulistano.

Ninguém, o disco, é o melhor trabalho solo de Arnaldo Antunes e um dos melhores álbuns lançados em 1995. Neste trabalho ele mostrou que tinha muito a mostrar e que dentro do Titãs já tinha dado sua contribuição e precisava de mais espaço para explorar sua arte. Com este álbum, Arnaldo se consolidou como um dos maiores poetas de sua geração e um dos artistas mais requisitados do rock e da mpb brasileira. 


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