Sempre admirei o trabalho de
Cássia Eller, mas nunca fui fã de ter os discos e tal. Talvez rolasse um
preconceito idiota da minha parte, pelo fato dela ser mais uma intérprete do
que compositora algo como “assim fica fácil fazer sucesso, pegando grandes
canções de grandes compositores”. Um disco que eu já tinha ouvido era o Acústico
MTV, de 2001 e tinha achado bem bacana. Agora que saiu o documentário sobre a
vida dela (que eu ainda não assisti) fiquei mais curioso sobre a discografia
dela e resolvi ouvir um disco de 1994, que se chama apenas Cássia Eller e tem
ela na capa sentada em um canto perto da parede.
Cássia já tinha dois discos
lançados: Cássia Eller de 1990 (que fez certo sucesso graças à bela versão que
ela fez para “Por enquanto” de Renato Russo) e Marginal de 1992. Desapontada
com as fracas vendas dos dois primeiros discos, Cássia estava disposta a pedir
demissão quando entrou no estúdio para gravar seu terceiro disco em 1994. Era
uma espécie de tudo ou nada para a cantora, que escolheu um repertório muito
inspirado, o que ajudou a aumentar a receptividade do disco.
Na música de abertura, a
roqueira “Partners” música do RPM lançada no segundo disco deles RPM (Ou Quatro
Coiotes) de 1988, conta com a competente guitarra de Wander Taffo, em uma interpretação
forte e marcante de Cássia com sua voz potente e rasgada. “Malandragem” era uma
canção inédita da dupla Cazuza e Frejat e foi um verdadeiro presente para
Eller. A música foi um grande sucesso e talvez o maior clássico de sua
carreira. A letra caiu como uma luva com seu jeito de cantar e o arranjo da
banda deu uma pegada rock n´roll que elevou o potencial da música.
“ECT” outra música inédita
composta pelo trio Nando Reis, Marisa Monte e Carlinhos Brown, tem uma pegada
mais percussiva e uma belíssima letra. “Try a little tenderness” fez sucesso na
voz de Otis Reading nos anos 60 e é uma versão bem fiel ao original, com Cássia
se destacando mais uma vez. “1º de julho” é de Renato Russo e nunca tinha sido gravada
pela Legião, que só gravou a música somente em 1996, no disco A Tempestade. A
canção conta com a participação de Roberto Frejat no violão.
A interpretação de Cássia na
música “Na cadência do samba” de Ataulfo Alves mostra toda a versatilidade da
cantora, que interpretava Samba, Rock, Reggae, MPB e até mesmo Rap, com a mesma
competência. “Lanterna dos afogados” já era um clássico do rock brasileiro na
voz dos Paralamas e Cássia conseguiu imprimir sua marca na canção, que é um das
melhores do disco. O guitarrista Wander Taffo participa novamente nesta canção.
“Coroné Antônio Bento” de
João do Vale tem a participação de Oswaldinho do Acordeom. “Metrô linha 743” tem
uma das melhores letras de Raul Seixas, criticando a violência policial na
época da ditadura e também é muito bem interpretada por Cássia. O arranjo
reggae, em minha opinião, não combinou muito com a letra de “Socorro” de
Arnaldo Antunes e Alice Ruiz. Cássia vai fundo no blues nas versões de “Blues
do iniciante” do Barão Vermelho e “Música Urbana 2” da Legião Urbana.
O disco termina com a
eletrônica “Pétala”, versão da canção de Djavan, que tem uma letra linda e
ganhou uma interpretação serena e melancólica na voz de Eller. O álbum vendeu
mais de 150 mil cópias e foi um grande sucesso. Após ouvir este disco fui capaz
de compreender melhor o talento de Cássia. Ela, ao pegar uma música de outro
artista tinha a dura missão de imprimir sua própria identidade, mesmo a canção
já sendo um clássico. Conseguir êxito desta maneira é bem complicado e Cássia
conseguia sempre surpreender em suas versões. Uma artista que faz muita
falta, sem dúvida alguma.
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