9 de fevereiro de 2015

Clássicos do Brasil – Cássia Eller

Sempre admirei o trabalho de Cássia Eller, mas nunca fui fã de ter os discos e tal. Talvez rolasse um preconceito idiota da minha parte, pelo fato dela ser mais uma intérprete do que compositora algo como “assim fica fácil fazer sucesso, pegando grandes canções de grandes compositores”. Um disco que eu já tinha ouvido era o Acústico MTV, de 2001 e tinha achado bem bacana. Agora que saiu o documentário sobre a vida dela (que eu ainda não assisti) fiquei mais curioso sobre a discografia dela e resolvi ouvir um disco de 1994, que se chama apenas Cássia Eller e tem ela na capa sentada em um canto perto da parede.


Cássia já tinha dois discos lançados: Cássia Eller de 1990 (que fez certo sucesso graças à bela versão que ela fez para “Por enquanto” de Renato Russo) e Marginal de 1992. Desapontada com as fracas vendas dos dois primeiros discos, Cássia estava disposta a pedir demissão quando entrou no estúdio para gravar seu terceiro disco em 1994. Era uma espécie de tudo ou nada para a cantora, que escolheu um repertório muito inspirado, o que ajudou a aumentar a receptividade do disco.

Na música de abertura, a roqueira “Partners” música do RPM lançada no segundo disco deles RPM (Ou Quatro Coiotes) de 1988, conta com a competente guitarra de Wander Taffo, em uma interpretação forte e marcante de Cássia com sua voz potente e rasgada. “Malandragem” era uma canção inédita da dupla Cazuza e Frejat e foi um verdadeiro presente para Eller. A música foi um grande sucesso e talvez o maior clássico de sua carreira. A letra caiu como uma luva com seu jeito de cantar e o arranjo da banda deu uma pegada rock n´roll que elevou o potencial da música. 


“ECT” outra música inédita composta pelo trio Nando Reis, Marisa Monte e Carlinhos Brown, tem uma pegada mais percussiva e uma belíssima letra. “Try a little tenderness” fez sucesso na voz de Otis Reading nos anos 60 e é uma versão bem fiel ao original, com Cássia se destacando mais uma vez. “1º de julho” é de Renato Russo e nunca tinha sido gravada pela Legião, que só gravou a música somente em 1996, no disco A Tempestade. A canção conta com a participação de Roberto Frejat no violão.

A interpretação de Cássia na música “Na cadência do samba” de Ataulfo Alves mostra toda a versatilidade da cantora, que interpretava Samba, Rock, Reggae, MPB e até mesmo Rap, com a mesma competência. “Lanterna dos afogados” já era um clássico do rock brasileiro na voz dos Paralamas e Cássia conseguiu imprimir sua marca na canção, que é um das melhores do disco. O guitarrista Wander Taffo participa novamente nesta canção.

“Coroné Antônio Bento” de João do Vale tem a participação de Oswaldinho do Acordeom. “Metrô linha 743” tem uma das melhores letras de Raul Seixas, criticando a violência policial na época da ditadura e também é muito bem interpretada por Cássia. O arranjo reggae, em minha opinião, não combinou muito com a letra de “Socorro” de Arnaldo Antunes e Alice Ruiz. Cássia vai fundo no blues nas versões de “Blues do iniciante” do Barão Vermelho e “Música Urbana 2” da Legião Urbana. 

O disco termina com a eletrônica “Pétala”, versão da canção de Djavan, que tem uma letra linda e ganhou uma interpretação serena e melancólica na voz de Eller. O álbum vendeu mais de 150 mil cópias e foi um grande sucesso. Após ouvir este disco fui capaz de compreender melhor o talento de Cássia. Ela, ao pegar uma música de outro artista tinha a dura missão de imprimir sua própria identidade, mesmo a canção já sendo um clássico. Conseguir êxito desta maneira é bem complicado e Cássia conseguia sempre surpreender em suas versões. Uma artista que faz muita falta, sem dúvida alguma. 


Nenhum comentário:

Postar um comentário